Entre Balões: Explicando o (complicado) MULTIVERSO da DC COMICS

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Mais de um Batman, diversos Supermen e um Flash de dois mundos! Entenda as várias Terras Alternativas que transformaram o Universo DC… e ameaçam voltar!

Por Ben Santana

A teoria que existem vários universos coexistindo não é nova. A Teoria das Cordas tenta explicar isso, através da mecânica quântica e cientistas como Stephen Hawking e Neil DeGrasse Tyson a apoiam. Mas, na ficção científica, a ideia de universos paralelos foi e vem sendo usada à exaustão. E em grande parte por causa de uma revista em quadrinhos: Flash 123, de 1961.01

A história “The Flash of Two Worlds” (“O Flash de Dois Mundos”), escrita por Gardner Fox e desenhada por Carmine Infantino, aconteceu quase por acidente. Infantino criava capas e desafiava os escritores a dar uma solução para elas, uma piada entre os membros da editora. O primeiro Flash,  Jay Garrick, já não era publicado desde a década anterior, tendo sumido junto com muitos dos seus colegas,  quando o interesse pelos super-heróis  se esvaneceu depois da Segunda Guerra Mundial. Infantino achava que Fox e o editor Julius Schwartz nunca achariam uma solução para algo tão improvável como dois Flashes de tempos diferentes aparecendo ao mesmo tempo.  Mas ele se enganou. E como.

Heróis Científicos

Aqui, precisamos nos situar: em 1956, no quarto número de Showcase, um novo Flash, Barry Allen, foi apresentado. Para muitos historiadores, esse é o início da chamada Era de Prata. Julius Schwartz, o editor da National (que mais tarde viria a ser chamada de DC Comics) sempre esteve envolvido com a ficção científica, tendo sido agente literário de escritores como Ray Bradbury, Robert Bloch e até mesmo HP Lovecraft. Juntamente como Mort Weisinger e Forrest J. Ackerman, ele publicou um dos primeiros fanzines de ficção científica, The Time Traveller, em 1932. Então, não foi surpresa alguma quando ele resolveu trazer de volta o Flash, o Lanterna Verde e vários outros, mas recriando-os de uma maneira mais “científica”.

Por exemplo, o primeiro Lanterna Verde,  Alan Scott, foi criado em 1940 por Martin Nodell e Sheldon Moldoff. Ele tinha seus poderes derivados de uma lanterna mágica, em uma reinterpretação moderna de Aladim. Quando Schwartz e o escritor John Broome resolveram repaginar o personagem, em Showcase 22, de 1959, eles mostraram um Lanterna Verde completamente diferente. Ele era Hal Jordan, um piloto de testes que se torna membro de uma tropa de policiais espaciais que patrulhavam vários setores do universo. O conceito “emprestava” muito da série  Lensman (iniciada em 1948), de EE Doc Smith, um dos pais da chamada space opera.

As histórias dessa época podem ser consideradas os primeiros reboots dos quadrinhos. Ou, para usar uma palavra mais em voga ultimamente, uma “reimaginação”.

02Ou seja: quando Flash 123 foi publicado, os novos personagens já existiam há alguns anos.  Mas é claro, os antigos fãs se perguntavam o que tinha acontecido com os personagens que eles liam anos antes. Schwartz e Fox se inspiraram pela capa de Infantino e disseram que, na verdade, o primeiro Flash (Garrick) habitava uma terra paralela que, através de um ato fortuito, foi encontrado pelo segundo Flash (Allen).  Esse mundo paralelo, foi explicado mais tarde, era o lar dos heróis que combateram na época da Segunda Guerra Mundial, heróis que viviam em semiaposentadoria.

A edição foi um sucesso e a National/DC percebeu que tinha algo muito interessante em mãos e resolveu trazer de volta os personagens da Era de Ouro. Mas como fazer isso, uma vez que os personagens da Era de Prata já estavam estabelecidos?  A criação de algo que mais tarde seria chamado de “Multiverso DC”.

Crise? Que Crise?

Nos números 22 e 23 de Justice League of America (1963), a Liga da Justiça se encontra com a sua contraparte da Terra-2, a Sociedade da Justiça, nas histórias “Crise na Terra-1” e “Crise na Terra-2”, inaugurando encontros anuais entre as duas equipes, chamadas de “Crises”,  nome que ficaria associado enormemente com a editora.

03(É interessante uma nota sobre a nomenclatura “Terra-1” e “Terra-2”: A Terra-1 abrigava os personagens “modernos”, da Era de Prata, e a “Terra-2” os da Era de Ouro. Como foi Barry Allen que encontrou a Terra paralela em primeiro lugar, ele nomeou aquele mundo de “2”, tomando para a sua Terra o número “1”. Aqui no Brasil, a EBAL usou a nomenclatura exatamente dessa maneira, mas quando a Editora Abril começou a publicar a DC,  em 1984, para evitar uma possível confusão dos leitores eles decidiram usar os nomes “Terra Ativa” (1) e “Terra Paralela” (2) )

Logo foram criadas novas Terras para que tais aventuras pudessem ocorrer.  Em 1964, em Justice League of America 29, é criada a Terra-3, lar do Sindicato do Crime da América, versões perversas dos membros da Liga, como Ultraman (Superman), Coruja (Batman), Super-Mulher (Mulher Maravilha), Anel Energético (Lanterna Verde) e Relâmpago (Flash).

Em Shazam! 1 (de 1973, quando a DC comprou o Capitão Marvel ) o mundo que os personagens da defunta Fawcett habitavam foi chamado de Terra-S. Também em 1973, em Justice League of America 107, foi mostrada a existência da Terra-X, que continha os personagens da Quality, como Tio Sam, Bomba Humana, Lady Fantasma e Condor Negro (os chamados “Combatentes da Liberdade”).  Nesse mundo, a Segunda Guerra Mundial durou mais tempo e os nazistas a venceram.  Os dois mundos, a Terra-S e a Terra-X, 04ganharam a sua própria “Crise” nas páginas de Justice League of America.

Durante um bom tempo, o conceito das Terras paralelas foi extremamente importante e um dos aspectos mais charmosos da editora. O problema foi que, com compras sucessivas de patrimônio intelectual de várias editoras, cada vez mais Terras começaram a ser criadas para abrigar os personagens. O primeiro caso foi o do Capitão Marvel e todos os personagens da Fawcett. Ao invés de ele ser colocado nas já existentes Terras-1 ou Terra-2, foi criada outra, a Terra-5. Sem falar que existiam mundos como a Terra-A (“A” de “Alternativa”), que era uma ligeira versão da própria Terra-1.  Ou a Terra Primordial, que inicialmente era para ser o “nosso” mundo, onde as histórias eram publicadas, mas logo ganhou seus próprios heróis… O mais importante deles sendo o Superboy, que teria influência anos depois.

Terra-2: A Mais Interessante das Terras

A Terra-2 tecnicamente não foi o primeiro mundo paralelo da DC Comics já que, em Wonder Woman 59, de 1953, a Mulher Maravilha viaja até um universo espelho onde encontra a personagem Tara Terruna, que é exatamente como ela. Mas, ainda assim, a Terra-2 é possivelmente uma das mais ricas dentro do multiverso da editora. Afinal, ela abrigava os personagens que tiveram as suas histórias publicadas desde os anos quarenta e (como veremos mais tarde) ela se tornou o lar de muitos personagens de outras editoras que foram adquiridos pela DC ao longo dos anos.

06Mas não foi apenas nas “crises” anuais que a Terra-2 tinha destaque. Durante os anos 1970, uma série de histórias com  o Superman da Terra-2 foram publicadas pela DC. Inclusive, no número 484 de Action Comics (1978), para comemorar o aniversário de quarenta anos do personagem, é mostrado o casamento do Homem de Aço. Graças a uma esperta capa que encobria o seu símbolo (que era diferente daquele da Terra-1), os leitores por um momento imaginaram que o Superman que se casava era o que eles melhor conheciam, não sua contraparte.

E, em 1976, a DC reviveu um de seus mais vetustos títulos, o All-Star Comics, 05trazendo novas aventuras da Sociedade da Justiça no presente. Essa série durou 17 números, sendo cancelada graças à chamada “DC Implosion” (apelido dado ao cancelamento súbito de quase trinta títulos da editora em 1978). As histórias continuaram brevemente na Adventure Comics. Essa fase, escrita por Gerry Conway e Paul Levitz, teve alguns marcos: a Sociedade da Justiça finalmente ganhou uma origem (em DC Special 29, de 1977 – publicada aqui em Heróis em Ação 9, da Editora Abril, em 1985, e primeira publicação da editora com a Terra “Paralela”), foram introduzidas as personagens Caçadora (a filha de Bruce Wayne e Selina Kyle daquela Terra) e Poderosa (uma prima de Kal-L, a equivalente da Supergirl da Terra-1) e a morte do Batman da Terra-2.

07A série se mostrou extremamente interessante e foi responsável pelo conhecimento mais amplo da Terra-2 e do próprio Multiverso. Afinal, os personagens deixaram de ser apenas coadjuvantes nas histórias da Liga da Justiça e ganharam uma série própria, com a sua própria mitologia.

Mas quem mais se divertiu com a Terra-2 foi o escritor Roy Thomas, o menino-prodígio da Marvel nos anos 1960, que tinha se mudado para a DC. Em 1981 estreou  All-Star Squadron, que trazia histórias da Sociedade da Justiça  na época da Segunda Guerra Mundial. Era a oportunidade para Thomas trabalhar com os seus personagens favoritos, aqueles da Era de Ouro. Mas o mais interessante é que ele usou também vários personagens comprados pela DC, como os da Quality, personagens que, segundo ele, “eram extremamente promissores, mas foram esquecidos ou mal trabalhados durante anos”. Eles incluíam Johnny Quick , Liberty Belle e até mesmo uma versão do Homem Borracha (Plastic Man). A arte ficou a cargo do veterano Rich Buckler e do então novato Jerry Ordway.

All-Star Squadron gerou um spin-off em 1983 chamado Infinity Inc., que se passava no presente e tinha como personagens os filhos e descendentes da Sociedade da Justiça. Ela foi escrita por Roy e sua esposa Dann Thomas e contou, em certas edições, com a arte de um jovem Todd Mcfarlane.

All-Star Squadron foi um dos títulos que mais sofreram com Crise nas Infinitas Terras, quando todos os universos foram amalgamados em um só. A série foi cancelada no número 67, em 1987.

E assim a DC chegou à maior Crise de todas.

Continua…

(Não perca a segunda parte deste artigo especial e entenda os eventos modernos da DC Comics!)

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BenBen Santana nasceu no final da Era de Prata, mas cresceu na Era de Bronze. Professor, tradutor e desocupado (quando sobra tempo), vem lendo e pesquisando quadrinhos desde sempre. Seu blog é http://prataebronzecomics.blogspot.com.br


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6 comentários sobre “Entre Balões: Explicando o (complicado) MULTIVERSO da DC COMICS

    • Antonio

      Só de leve. Afinal, tem spoilers. Future’s End (Fim dos Tempos), Multiversity (Multiversidade) e Convergence (que ainda não saiu aqui) tem interligações.

      Mas tem MUITAS Crises mais na segunda parte, Antonio. Fiqye ligado.

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