Chique Norris: Por que OS QUADRINHOS não precisam dos ZUMBIS do POLITICAMENTE CORRETO

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Os quadrinhos sempre representaram as minorias, mesmo se alguns insistem que não

Por Carlos Alberto Bárbaro

Os quadrinhos desde há muito apresentam histórias de mulheres fortes, além de uma diversidade acachapante de tipos humanos: homens e mulheres, brancos e negros, hétero e homossexuais, sóbrios e bêbados, enfim, uma ampla amostra do mundo real. E, surpresa, quase todas do lado do bem, embora essa diversidade também se estenda ao elenco dos supervilões.

slide_195492_446832_freeTendo isso em mente, perguntamos: qual foi a última vez em que você acessou um site de quadrinhos, cinema e cultura pop em geral sem dar de cara com pelo menos nove entre dez artigos ou resenhas que, invariavelmente, clamam por mais “protagonismo feminino”, aumento da diversidade e elogios à “saída do armário” de personagens relativamente secundários que jamais tinham demonstrado quaisquer tendências homossexuais anteriormente?

E qual foi a última vez em que, após ler um desses dez artigos ou resenhas, você pensou: “Mas do que é que esses moleques tão falando?”.

Temores Vagos

Pois é… Hoje em dia, não basta mais ler histórias em quadrinhos, é preciso transformá-las. Não há mais resenhas, mas manifestos. Não se comentam as qualidades ou falhas de roteiros ou ilustrações, mas se sugere que isso ou aquilo não é admitido e precisa ser mudado sob pena…

Sob pena de quê, mesmo?b48640c5d0a4760e6c417606bce9bb73

Sob pena de temores vagos sobre danos psíquicos indeléveis que leitores e leitoras poderiam sofrer ao serem submetidos a cenas de violência contra mulheres nos quadrinhos, ou incertezas sobre a própria sexualidade que tomariam de assalto aqueles que não encontrarem representações de suas escolhas retratadas em gibis de mutantes.

As meninas, nos dizem essas análises, não se sentem “empoderadas” ao serem retratadas em situações de fragilidade. Não importa que a heroína prevaleça ao final da história, é imperioso que, durante todas as 22 páginas da edição, e principalmente na capa, não haja um único momento em que uma mulher seja submetida ou demonstre medo durante um confronto.

PantherWeddingOs leitores LGBT, continuam a nos dizer, se sentem à margem por não encontrarem nos quadrinhos a mesma proporção de personagens homossexuais ou transgêneros que se apresentam na vida real.

Se esses sites fossem administrados por jovenzinhos que jamais tiveram contato com histórias em quadrinhos mais antigas que um Johnny Walker Black, seria possível relevar… Mas relevar só um pouquinho, afinal, se algo está ao alcance de um clique hoje em dia, são os gibis de praticamente todas as épocas e latitudes.

Ataque aos Heróis

Claro que se está falando aqui das histórias em quadrinhos de super-heróis, a parte menos nobre – para os empedernidos – da arte sequencial.

Durante muito tempo, esse bastião mais comercial da indústria foi X-Men_Vol_2_30_Wraparoundencarado com escárnio e maldizer, com um Armando Matellart aqui ou um Ariel Dorfmann acolá a denunciarem a cidade de Patopólis e o escudo do Capitão América como serviçais do imperialismo. Durante muito tempo, os quadrinhos de super-heróis foram deixados em paz pelos fiscais de ereção alheia, nos entregando sem autocensura personagens vitais como o Justiceiro, representações de mulheres ninja em trajes sumários sendo assassinadas com golpes de sari e, horror dos horrores, aleijando e, possivelmente, estuprando filhas de comissários impunemente. Hoje, porém, como tudo parece indicar, é chegada a hora do juízo final.

Não se pode mais fazer nada disso impunemente sem que se tenha que enfrentar um processo kafkiano.

Porque não temos que ter medo da violência

É curioso que, a partir exato do momento em que os quadrinhos de super-heróis ficam mais adultos e passam a discutir em suas páginas assuntos candentes como o vigilantismo, a violência contra as mulheres e os limites que os heróis têm que cruzar às vezes para que a justiça prevaleça e que essas representações da imaginação dos artistas começam a se confrontar com temas mais próximos da realidade, os suspeitos de sempre comecem a se interessar novamente pelos quadrinhos, que até então achavam alienados. Mas não se interessam para leitura, diversão e reflexão, mas para leitura, catalogação e panfletarismo.

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A palavra importante do parágrafo anterior foi “representação”. Toda obra de ficção é uma representação, uma alegoria da realidade, mesmo as ficções científicas mais delirantes. E uma das funções da representação é nos fazer refletir sobre a realidade, nos revelar algo que ainda não suspeitávamos, ou que apenas intuíamos, sobre ela. A representação da violência não é violência, mas reflexão sobre a violência.

Os fiscais do prazer alheio sabem de tudo isso, tanto que lutam por representações mais “positivas” e “diversas” dos heróis nos quadrinhos. Sim, é bom que um universo ficcional seja povoado de negros, homossexuais, mulheres e até crianças. Diversidade sempre faz bem. Mas é imprescindível que esse mesmo universo encare de frente as questões mais delicadas sobre a alma humana. E a violência, creiam, é uma delas.

Afinal, o que querem os patrulheiros?savage-dragon-209-139397

Mas voltemos à questão central: por que, de repente, todo mundo parece querer um quadrinho de super pra chamar de seu?

Porque, conquistado o terreno da “alta cultura”, no qual um personagem não pode soltar um pum sem que o autor deixe claro tratar-se de um pum vegano, produzido por alimento vindo de uma horta orgânica de fazenda comunitária, as armas se voltam agora para o campo da cultura pop, outrora negligenciado por sua (suposta) mais baixa extração.

No mundo dos gibis, onde a porrada (que horror!) ainda come solta e onde um homem branco é o ser mais poderoso do mundo, há ainda todo um trabalho a fazer. Que este homem branco seja um alienígena, ou seja, a mais perfeita representação de alteridade que o “novo” discurso busca infatigavelmente, parece não ter a mínima importância. O que importa é invadir e conquistar mais esse território.

E como se faz isto?

Usando o método quase infalível de repetir uma mentira por tantas vezes que ela acabe por se tornar uma verdade.

É mesmo verdade?

xo-038-cover-a-sandoval-129924Não é verdade que a representação de heroínas em momentos de submissão por parte de psicopatas degrade ou diminua a mulher, principalmente quando sabemos que a regra, em gibis, é que o herói, no caso, a heroína, prevaleça no final, e que quem saia mal na fita seja o psicopata, e não a mulher. Na verdade, é até bom que essas representações sejam feitas, porque, no mínimo, elas demonstram que as adversidades existem, que todos estão sujeitos a elas e que é possível não somente enfrentá-las, mas derrotá-las.

Há tempos as minorias são também representadas nos quadrinhos de super-heróis. Mulheres, negros, judeus, homossexuais, nazistas, racistas e psicopatas, e até homens brancos, todos têm suas contrapartes no papel.

É mentira que personagens integralmente positivos estabeleçam uma identificação com o leitor e, a partir daí, possam servir de exemplo edificante para que este se assumam como são. Não conheço ninguém que julgue poder vir a ser o Super-Homem ou o Batman, mas conheço um bocado de gente que se identifica com o falho e quase sempre fracassado Peter Parker, esse retrato degradante de  jovem que a Marvel insiste em nos apresentar (ou insistia, porque notícias de última hora asseguram que o cara ficou milionário e tá pegando todas).

article-2084094-0F62B6F400000578-464_468x616Na vida real, mulheres usam decote e, portanto, é estranho afirmar que uma super-heroína com um uniforme superdecotado degrade a imagem das mulheres (embora, sinceramente, eu também ache estranho que a maior parte das heroínas prefira sempre lutar de biquíni cavadão).

HQs são um negócio

Essas “opiniões” enviesadas, hoje todas tomadas como verdades absolutas, foram tão difundidas e propagadas por aí, que era fatal que começassem a ecoar nos mais diversos meios de comunicação. Inclusive em sites de cultura pop, cujos redatores – por terem convivido anos a fio com histórias que por si só são o exemplo mais bem-acabado de diversidade e representação que se pode encontrar entre todas as manifestações culturais do mundo atual – deveriam estar imunes a esse tipo de assédio.

Mas não estão.

Esse discurso chegou ainda vai prevalecer por um tempo. Mas é mais uma modinha, como as anteriores.

O único conselho a ser dado a quem ache que faltam mulheres fortes e diversidade nos quadrinhos, ou que não há neles representação das minorias: vocês precisam ler os gibis que comentam.

Pra deixar claro: histórias em Quadrinhos são um negócio da imaginação, como outro qualquer. Quadrinhos, como a literatura, sempre foram representação da sociedade. Não apressem o rio, os quadrinhos já estão representando a sociedade atual da melhor maneira possível, até mesmo por interesse econômico das empresas que os editam.

Se lutarmos apenas por boas histórias, sem forçar a barra para o lado errado, essa representação continuará e crescerá ainda por muito tempo.

P.S.: Este artigo foi ilustrado com capas de gibis que retratam casamentos de heróis, uns mais famosos que outros. A intenção é que o leitor constate a diversidade imperante entre os convidados retratados nas capas. Afinal, nada melhor que um gibi para ilustrar o velho adágio de maus-bofes: “Entendeu? Ou quer que eu desenhe?”

BraboCarlos Alberto Bárbaro, o Chique Norris, é tradutor, preparador de textos e criador de casos profissional. Acredita que todos têm direito a opinar sobre tudo, mas que devem estar preparados para quando o sangue começar a jorrar

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7 comentários sobre “Chique Norris: Por que OS QUADRINHOS não precisam dos ZUMBIS do POLITICAMENTE CORRETO

  1. Excelente texto, parabéns ao autor. Estava em agonia vendo o mundo das HQ’s sendo tomado pelos zumbis PC, sem haver reação por parte dos fãs normais. Ainda bem que estão surgindo especialistas em quadrinhos para confrontar o projeto autoritário dessa gente.

    É importante esclarecer, como fizeste, o porquê disso e como combatê-los. A maioria foi cooptada e acha que está fazendo um trabalho essencial para o futuro e para a felicidade geral da humanidade. Dizem representar as minorias, mas utilizam-se delas para emplacar uma agenda política. Porque o politicamente correto é isso, o TOTALITARISMO PARA A PSIQUÊ HUMANA.

    Parabenizo-o novamente, espero ler mais análises combativas. Abraço.

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  2. Esse texto é ótimo pra esfregar na cara dos ‘guerreiros da justiça social’. Porém, o autor talvez julgue que esse pessoa politicamente correto tenha boas intenções. O que eles querem na verdade é simples: impor censura e sua visão torta de mundo. Posso estar parecendo paranoico, mas vejo a ocupação de espaço dos “progressistas” em todo lugar, claramente os gibis não iam ficar de fora.

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  3. Caramba, Chique, texto muito bom! Já tinha lido Blogs defendendo os dois lados dos quadrinhos (os chatos que ficam repetindo os discursos da Luciana Genro e os chatos que frequentam as marchas do Lobão), mas você conseguiu explicar sem ofensas e sem mimimi o objetivo real das HQs! Mais do que levantar bandeiras, vamos atentar para o que realmente é prejudicial!

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  4. Bom, o texto afirma que os “vigilantes do politicamente corrento” só estão fazendo tais exigências por modinha e afirma que os quadrinhos sempre retrataram diversidade.

    Por ser um meio de comunicação que por muito tempo nao foi levado a sério, os quadrinhos tiveram, sim, mais liberdade para apresentar personagens negros lgbts, etc. Mas, ainda sim, grande parte dos quadrinhos mainstream, principalmente de super heróis, apresentam homens brancos hetero cis como protagonistas. Tanto na Liga da Justiça quanto nos Vingadores, por exemplo.

    Muitos destes quadrinhos e personagens vêem de muitas décadas atrás, quando as minorias tinham menos poder de voz. Por isso aconteceu esta predominância de personagens homens brancos hetero cis.
    Quando os movimentos sociais pedem que haja mais diversidade, é justamente para quebrar com este padrão que ainda esta muito presente na sociedade.

    Sobre as mulheres nao poderem sofrer ou ter medo, acredito que você nao soube interpretar as queixas do movimento feminista. Ninguém pede que elas sejam sempre indestrutíveis e perfeitas. Mas retratar a mulher como frágil, que precisa ser salva por um homem, é um reforço do machismo que prejudica mulheres todos os dias. Sim, existem inúmeras heroínas poderosas – com destaque para a Mulher Maravilha, que tem papel fundamental no feminismo – mas elas ainda nao são vistas com igualdade (que é tudo o que o feminismo pede) em relação aos homens. Ou é só coincidência que a maior parte dos times de heróis é formada por homens?

    Em relação aos lgbts, a demanda é que haja representação, afinal, por ser um tema muito silenciado décadas atrás, poucos personagens mainstream eram diversos em relação a isso. E, quando aparecia um gay aqui ou ali, nunca era um personagem fixo, quem dira protagonista. Só mais recentemente foram surgindo Lanternas Verdes e Batwomans pra quebrar com isso.

    Com os negros é a mesma questão, nao preciso explicar novamente.

    Então nao é que as pessoas nao se importem com a arte ou roteiro. Mas, diferente do passado, as minorias, agora, tem mais poder de voz, por isso aparecem mais exigências.

    Isso nao é algo relativo aos quadrinhos, mas sim a qualquer representação (seja cinema, tv, publicidade, games, etc).

    Pode parecer que nao, mas o entretenimento tem um poder muito forte de penetração no publico e transmissão de valores. E esse poder é grande porque ele faz isso inconscientemente, diferente de documentários e jornais, por exemplo.

    Por isso é importante que todas as mídias passem a representar as minorias de forma mais humana e igual, pois, assim, a cultura de preconceito também vai se quebrando.

    Ah, e claro que essa maior representação de minorias nao implica numa extinção do homem branco hetero cis. Aceitar a diversidade inclui ele também.

    Eu acredito que este texto foi escrito por alguém que sabe muito sobre quadrinhos, mas ainda nao deu a devida atenção aos movimentos sociais. Nao lhe conheço, mas olhando sua foto, vejo que é um homem branco e acredito que nao seja LGBT. Por isso, acredito que você nunca teve problemas com representação própria em obras de entretenimento ou foi impedido de fazer ou ser alguma coisa por causa de atributos com os quais nasceu.

    Sugiro que procure se informar mais sobre grupos historicamente oprimidos e mudar este conceito de que o ativismo é “modinha”, porque dizer isso é só mais uma tentativa de silenciar os movimentos e perpetuar a cultura do macho branco hetero cis – coisa que nao vai acontecer nem nos quadrinhos, nem em lugar algum.

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  5. Acredito que houve um equívoco bem primário que permeou o texto todo: falta empatia.

    Toda a análise foi realizada sob uma perspectiva unilateral, sem permitir colocar-se no lugar daqueles a quem a crítica se dirige.

    Note, ou pelo menos tente, que as pessoas absorvem o mundo de maneiras diferentes, tem relações diferentes com o ambiente ao seu redor, e excluir as mídias de entretenimento relegando-as a um papel de “simples material acerebrado” dessa equação é um passo rumo ao retrocesso.

    Não vejo problemas em apontar exageros, longe disso. Todo conceito precisa ser amplamente questionado. Contudo pegunte-se sempre:
    “Será que ao apontar tais “exageros”, não estarei eu, exagerando?”

    (P.s.1: faça uma analise de proporções: quantos heróis brancos, héteros, cis existem em relação a todos esses que você tão avidamente critica a existência?

    P.s.2: Houve uma interpretação errônea sobre a visão feminista nos quadrinhos (que fatalmente se espalha em todas a mídias). O que existe não é uma exigência para que as personagens femininas sejam intocáveis, e sim para que elas sejam críveis. Homens e mulheres de diferentes gêneros e orientações absorvem tem formas diferentes de se relacionar com o mundo ao seu redor

    P.s.3: Esse não se dirige ao seu texto em específico, mas a alguns comentários sobre ele. Social Justice Warriors é no mínimo um termo muito pejorativo. Se aqueles que usam o termo não se preocupa em entender as pessoas ao seu redor, que não tentem fazer parecer vergonhosas as atitudes daqueles que tentam fazer isso. Como dito anteriormente, sempre existe espaço para debate e discussão, mas que isso exista no campo do respeito)

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  6. Hoje o único papel permitido a um homem branco e heterossexual é o de vilão. O capitão américa tem que ser negro, o thor agora é mulher, o homem de ferro descobriu que foi adotado, provavelmente é estrangeiro, e o homem-aranha que se cuide, porque alguém vai ter que virar gay nessa parada…

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