Crítica: O AGENTE DA UNCLE

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7 motivos pelos quais O Agente da UNCLE é uma grande decepção

Por Maurício Muniz

Estreia esta semana nas telas a nova superprodução da Warner, O Agente da UNCLE (The Man from UNCLE, 2015), dirigido por Guy Ritchie e estrelado por Henry Cavill e Armie Hammer como dois espiões de lados opostos que se aliam em uma perigosa missão. Assistimos ao filme e vamos explicar porque saímos decepcionados da sessão para a imprensa.

1. Apelo a um saudosismo que não existe

Originalmente, O Agente da UNCLE foi um seriado exibido entre 1964 e 1968, no qual um espião americano, Napoleon Solo (Robert uncle 01Vaughn), e um russo, Illya Kuryakin (David McCallum), atuavam juntos em uma agência secreta chamada UNCLE. Mesmo se a série se passava durante o auge da Guerra Fria, os dois espiões trabalhavam sem problemas ou conflitos lado a lado e geralmente enfrentavam uma organização maligna chamada THRUSH. Diz a lenda que o seriado teve consultoria de Ian Fleming, o criador de James Bond, o que explicaria – talvez – alguns elementos parecidos entre as franquias.

Mas, se você nunca tinha ouvido falar de O Agente da UNCLE, não há por que se envergonhar. Nem este crítico quarentão lembra direito… O máximo que assisti foram algumas compilações de episódios que se transformaram em longa-metragens com títulos como A Quadrilha do Caratê e Desapareceu um Espião. E duvido, na verdade, que seja muito diferente com o público médio de cinema. Quase ninguém se lembra de Solo e Kuryakin. Então, pra que tentar recriar essa franquia nas telas, Warner? O fator de reconhecimento do nome não é tão forte a ponto de atrair um grande público e o produto final é tão genérico que, no final das contas, quase poderiam ter usado qualquer outra fonte ou mesmo criado personagens originais para contar uma história parecida. O efeito seria o mesmo.

2. Trama “nhé”

uncle 03Solo (Cavill) e Kuryakin (Hammer) aparecem como oponentes a princípio, quando o primeiro, um agente da CIA, tenta resgatar de Berlim Oriental a jovem Gaby Teller (Alicia Vikander), filha de um cientista nuclear desaparecido. Kuryakin, que trabalha para a KGB, tenta impedir a ação e não consegue, mas tudo bem, porque logo depois o trio será reunido em uma missão espacial para tentar encontrar o pai da moça, impedir um ataque com bombas nucleares e enfrentar uma organização criminosa da qual faz parte a bela Victoria Vinciguerra (Elizabeth Debicki). E, contando assim, a coisa toda parece mais interessante do que é na verdade. Em quase momento algum a história engrena, empolga ou emociona. É tudo construído de maneira mecânica e nota-se que houve muitas mãos envolvidas na criação da trama, cada uma puxando-a para um lado diferente. Mesmo as cenas de ação – raras –são pouco imaginativas. É mais do mesmo e ainda feito com certa preguiça.uncle 02

3. Elenco mal-aproveitado

Quase todos os atores envolvidos são, sem dúvida, competentes. Mas estão perdidos, sem ter muito a fazer. Mal há entrosamento real entre os heróis e seu relacionamento, que deveria ser tenso e divertido, cai por terra devido ao fraco desenvolvimento de suas personalidades. As tentivas de romance também não passam um mínimo de credibilidade, um personagem só parece se interessar pela mocinha (e vice-versa) porque está no roteiro. Quem se sai melhor é Cavill, que consegue ser charmoso e simpático – mesmo se parece que ele está, a todo momento, fazendo um teste de câmera para ser escolhido como o próximo James Bond.

4. Não tem vilão

Um herói é bom quando seu vilão é um inimigo à altura. Mas O Agente da UNCLE não tem um antagonista de peso, com o qual o público possa antipatizar e torcer contra. Há capangas aos montes, mas todos sem apelo ou personalidade definida. Cadê a ameaça?

5. Forma antes do conteúdo

Guy Ritchie nem sempre consegue segurar seus maneirismos nos filmes que dirige e gosta de usar ângulos inusitados, truques de câmera e outras técnicas para impressionar. Não há problema quando isso não atrapalha a narrativa… mas, aqui, alguém deixou o diretor “soltinho” demais. A partir da segunda metade do filme, ele resolve mostrar o que considera seu virtuosismo e deixa de lado a emoção e (pouca) consistência da trama para brincar. O que deveria ser uma grande e importante sequência de ação, perde o interesse do público porque o diretor resolve dividir a tela em três para mostrar momentos paralelos dela, o que não funciona e parece apenas um expediente para disfarçar a pobreza geral. Depois, uma sequência de resgate da mocinha das mãos de um vilão é editada de maneira tão frenética e com ângulos tão estranhos que mal se entende o que acontece. E mesmo aquela que é, provavelmente, a cena de ação mais divertida do filme, soa um tanto falsa por trazer, como tema musical, uma canção romântica que um dos personagens escuta no rádio. Infelzimente, tudo só piora uma experiência que já não é grande coisa para o espectador.

6. Três clímaxes… um pior que o outro

A história fica tão sem rumo, que o filme tem três finais pouco emocionantes, um após o outro. E um pior que o outro. Num deles, um vilão menor sequestra a mocinha por não se sabe qual motivo, já que seria mais fácil fugir sem ela – inclusive porque aí não seria perseguido pelos heróis. Em seguida, há um confronto em alto-mar que, na verdade, não é um confronto, mas uma conversa sem graça e com resolução morna. E, por fim, quando chega o momento de um acerto de contas entre os heróis, ele é tão pífio que seria melhor terem esquecido de vez. A expressão “epic fail” vem à mente.

7. Falta de identidade

Como já dissemos acima, mal havia um bom motivo para resgatar essa franquia. Ainda mais em um filme que não sabe o que é. É uma comédia de ação que não tem piadas; é um “bromance” no qual não há simpatia e carisma entre os personagens; é uma homenagem aos filmes de espionagem da década de 1960 que parece falsa o tempo todo. O filme tenta seguir o caminho de Missão Impossível, mas não atualiza a premissa original de maneira interessante para o público moderno. Algumas coisas se salvam, como a trilha sonora incidental e alguns momentos da ação. Mas é pouco para um filme que o estúdio tinha a ambição de ser o primeiro de uma nova franquia. Frente à acolhida fria de público e crítica, a maior probabilidade é que nunca vejamos Solo e Kuryakin novamente. Infelizmente, havia potencial aqui, mas foi desperdiçado em uma série de erros.

COTAÇÃO:

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MauMaurício Muniz é jornalista, tradutor e editor de livros, revistas e quadrinhos. Ele já teve que explicar mais de uma vez que, não, O Agente da UNCLE não tem nada a ver com Os Agentes da SHIELD. Ah, esses novatos no mundo nerd…

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2 comentários sobre “Crítica: O AGENTE DA UNCLE

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