Crítica: THOR: RAGNAROK

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De Deus do Trovão a Deus do Pastelão

Por Maurício Muniz

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Há uma cena passada em Asgard, perto do início de Thor : Ragnarok, que dá o tom de tudo que o espectador verá durante a projeção. Uma peça teatral encenada para Odin por atores asgardianos sobre a morte de Loki (mostrada no filme anterior) traz participações especiais e não-creditadas de alguns astros do cinema, o que tira risadas do público pela surpresa e pelo texto claramente satírico. É um tom óbvio de farsa e é isso que a terceira aventura do Deus do Trovão é, no final das contas: uma farsa, uma comédia de ação que não tem medo de assumir sua intenção de apresentar uma torrente de piadas e algumas boas cenas de ação e correria.

Bem-vindo ao novo filme dos Trapalhões, se produzido pela Marvel Studios.

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Os dois filmes anteriores de Thor, lançados em 2011 e 2013, não são os favoritos de nenhum fã da Marvel e estão longe de ser os de maior arrecadação. O Segundo, O Mundo Sombrio, na verdade é considerado o pior da leva de aventuras do estúdio na telona. Por isso, os produtores resolveram que o melhor modo de evitar riscos no terceiro filme do membro divino dos Vingadores era enfiar outros heróis na trama (Hulk e o Dr. Estranho), trazer de volta Loki (sempre garantia de boa aceitação), utilizar alguns personagens novos saídos dos quadrinhos (Valquíria, Executor, Hela, Grão-Mestre) e – principalmente e mais importante – multiplicar em várias vezes o humor do filme. Tanto, aliás, que passa um pouco do ponto.

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História? Tem. Após sonhar várias vezes com o fim de Asgard em meio a terríveis chamas (o tal evento Ragnarok das lendas nórdicas), Thor (Chris Hemsworth) tenta deter o demônio Surtur que, ele imagina, será o responsável por tanta morte e destruição. Mas o herói descobre que está errado quando se junta ao irmão Loki (Tom Hiddleston) para procurar o verdadeiro Odin (Anthony Hopkins), ao qual Loki substituiu ao final de O Mundo Sombrio. O verdadeiro perigo para Asgard é Hela (Cate Blanchett), a deusa da morte, que reaparece atrás de vingança e poder. Ela manda os irmãos para longe, de forma que não atrapalhem seus planos, e os dois se vêm no planeta Sakaar, dominado pelo excêntrico Grão-Mestre (Jeff Goldblum), que tem como diversão principal promover o Torneio dos Campeões (leitores de quadrinhos mais velhos lembrarão desse nome), que coloca seres poderosos em luta numa arena.

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E a quem Thor é obrigado a enfrentar? Seu amigo dos Vingadores, o Incrível Hulk (Mark Ruffalo), que se tornou um gladiador invencível após aterrissar no planeta depois de A Era de Ultron. Thor e Hulk se enfrentarão, depois Thor tentará levar o amigo com ele até Asgard para salvar o reino. Enquanto Hela toca o terror em Asgard, matando personagens conhecidos da franquia e dominando a população com a ajuda do Executor (Karl Urban), Thor tenta achar um modo de fugir de Sakaar com a ajuda de Loki e de Valquíria (Tessa Thompson), uma guerreira asgardiana exilada. O final será marcado por quebra-quebras, correria e tudo mais que estamos acostumados a ver nos filmes da Marvel. Só que com mais piadas que o normal. Muito mais.

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O diretor neozelandês Taika Waititi conquistou a crítica com seus filmes anteriores, os ótimos O Que Fazemos nas Sombras e A Incrível Aventura de Rick Baker: o primeiro era uma comédia de terror sobre vampiros que moram juntos, o segundo uma aventura pelas florestas da Nova Zelândia repleta de humor e referências nerds. Waititi adapta seu estilo narrativo ao universo Marvel, mas parece ter acrescentado ainda mais do seu humor anárquico e peculiar ao roteiro de Eric Pearson, Craig Kyle e Christopher Yost. Thor se tornou um bufão: não apenas faz comentários engraçadinhos e cara de pateta o tempo todo, como também se mostra constantemente atrapalhado e desastrado. Quase todas as aparições de Loki seguem a mesma dinâmica, com o deus da mentira colocado em diversas situações ridículas para arrancar risadas da plateia – até um “merda” assustado ele solta quando, ainda disfarçado como Odin, se depara com o retorno 20170817_n_nerdistnews_strangethor_1x1inesperado de Thor. O Hulk, agora mais falante que nunca, se mostra um grandalhão forte e bobão ou, quando se transforma em Bruce Banner, quase um neurótico de fazer inveja aos personagens de Woody Allen. Até mesmo a aparição de Benedict Cumberbatch como o Dr. Estranho traz pouco mais que uma piada que se repete e se repete e se repete – e que poderíamos passar sem. Para um filme chamado Ragnarok, que trata do possível fim de uma civilização, um pouco mais de dramaticidade teria feito bem à trama. Quando, a cada minuto, todo mundo solta uma piada ou tropeça numa casca de banana e cai de cara numa torta (metaforicamente falando), fica difícil levar o apocalipse a sério. A tensão simplesmente se dissipa.

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Mas isso quer dizer que Thor: Ragnarok é um filme ruim? Longe disso. Há muito para se gostar aqui. Para começar, o visual e o desenho de produção são incríveis, com algumas cenas, apetrechos, personagens e imagens que deixariam o velho Jack Kirby orgulhoso de ter criado esse mundo fantástico. Blanchett arrasa como Hela, com uma interpretação que até parece exagerada e um pouco histriônica às vezes, mas que cai perfeitamente na personagem da deusa da morte. O ritmo do filme é ágil e as duas horas de dez minutos passam quase voando. E, finalmente, as sequências de ação são realizadas de maneira pra lá de competente, principalmente o clímax que traz um grande confronto em Asgard. E não se pode negar que o filme traz muitos momentos e participações surpreendentes – uma delas a do ator que interpreta Loki na peça encenada em Asgard e que nós não vamos contar a você quem é para não estragar a brincadeira, diferente (apostamos) de um monte de sites e críticos sem noção por aí por aí que farão questão de contar.

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Se você entrar na brincadeira e levar em consideração que o filme não se leva a sério em quase nenhum momento, é fácil se divertir. É só imaginar que este é um filme dos Guardiões da Galáxia no qual enfiaram o elenco de Thor por engano. Ou então que está vendo o melhor filme dos Trapalhões já produzido, com Thor-Didi, Valquíria-Dedé, Hulk-Mussum e Loki-Zacarias – pra não falar no Sargento Executor Pincel. Mas a cena pós-créditos, provavelmente a mais inútil entre todos os filmes da Marvel até agora, vai fazer você notar que esta é, apesar de suas qualidades, uma das aventuras mais esquecíveis da Casa das Ideias.

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Cotação:

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MauMaurício Muniz é jornalista, tradutor e editor de livros, revistas e HQs. Acha que os filmes da Marvel andam engraçados demais, enquanto os da DC são engraçados de menos. Mas, se é pra escolher entre piadas bobas ou pegar no sono, tem que admitir que a Marvel anda mandando melhor no cinema

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2 comentários sobre “Crítica: THOR: RAGNAROK

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