Nem STAR WARS, nem STAR TREK… conheça mais sobre DUNA, uma fantástica saga de FICÇÃO CIENTÍFICA

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Intrigas, traições e muita ação! No ano em que Duna, de Frank Herbert, completa 50 anos, investigamos porque essa fantástica série merece ser melhor conhecida

Por Ben Santana

“A Especiaria Deve Fluir”
– Frank Herbert, Duna

Duna, de Frank Herbert, completou 50 anos de publicação em 2015. E é impressionante como o livro ainda é atual. Nesses tempos onde a água está se tornando cada vez mais rara, onde as mudanças climáticas assolam a Terra, não é difícil imaginar um planeta desertificado.

O universo criado por Frank Herbert é um dos mais intrincados de toda a ficção científica. Imaginem, em um futuro 58distante, após as máquinas terem tomado o controle e serem destruídas, que toda a tecnologia de informação (leia-se “computadores”) tenha sido banida através de um jihad (sim, ele usa exatamente esse termo) e toda a navegação espacial seja feita através de uma substância chamada de “spice melange”, uma especiaria que só existe em um planeta chamado Arrakis.  Quem controla a especiaria, controla o universo. Esse commoditie também prolonga a vida e, em certos usuários, a habilidade de ver o futuro.

Em Duna, vemos uma sociedade feudal de famílias nobres (as Casas), que regem planetas presididos pelo imperador Shaddam IV. O Duque Leto Atreides é enviado para Arrakis (o nome real de Duna) como seu novo regente, tirando do lugar os impiedosos Harkonnens que tiranizaram aquela sociedade por quase cem anos. Atreides é traído e morre. Seu filho Paul e a concubina do Duque Leto, Jessica, são achados pelos Fremen, os habitantes originais de Arrakis. Paul se transforma em seu líder, usando ao seu favor o fanatismo dos Fremen e, como Lawrence da Arábia,  os lidera para que eles se insurjam contra os Harkonnen.

dune02O enredo seria simples, se fosse apenas isso. Mas Herbert usa magnificamente a religião (através de uma casta de mulheres chamadas de Bene Gesserit), as drogas, a intriga de corte e mostra que, no final das contas, a “especiaria” não passa de uma bela metáfora para o petróleo. Uma análise da política do mundo na época da guerra fria, usando o costumeiro véu da ficção científica.

O livro ganhou dois dos mais prestigiosos prêmios da ficção científica em 1966, o Hugo e o Nebula (em sua primeira edição). Mas muita gente torceu o nariz. O grande escritor inglês J G Ballard escreveu, em sua crítica para o Guardian:

“O livro contém quase nenhum elemento de imaginação além da sua premissa original… ele descreve em detalhes elaborados as infinitas lutas dinásticas entre duas famílias em pé de guerra… a narrativa enorme e repetitiva é cheia de mapas e apêndices, intermináveis citações de textos sagrados e uma mistura de nomes pseudo-arábicos e ruritanos quase impossíveis de serem pronunciados, colocados juntos para impressionar os incautos e dizer que é ‘literatura’…”

O grande escritor de Crash e o Império do Sol se enganou. E muito. E provou que até os melhores críticos não são imunes ao preconceito. Como disse aí em cima, a religião tem papel fundamental no Universo de Duna, como visto nas suas sequências, principalmente em O Messias de Duna. Quanto às citações… Herbert foi extremamente influenciado pelo Zen Budismo e o texto é permeado de koans. Outra coisa… as intigas de corte, hoje tão em voga graças a Game of Thrones, são usadas de forma magistral por Herbert.

(Aliás, uma recomendação: quem gosta desse tipo de literatura – sim, ao contrário de Ballard não usarei as aspas – deve ler Duna. George RR Martin aprendeu MUITA coisa ali.)

Além disso,  o primeiro livro de Duna mostra apenas um vislumbre do que era o seu universo. Era apenas a ponta de algo maior. Herbert passou cinco anos pesquisando e escrevendo, antes de publicar em 1965 o que seria o seu primeiro livro. Se ele tinha a intenção de continuar ou não a história, é uma boa pergunta. O fato é que rendeu cinco sequências “canônicas”: O Messias de Duna (1969), Os Filhos de Duna (1976), O Imperador Deus de Duna (1981), Os Hereges de Duna (1984) e As Herdeiras de Duna (1985).

Em Outras Mídias

Em 1973, o cineasta chileno Alejandro Jodorowsky tentou filmar Duna. O projeto seria algo grandioso, envolvendo gentedune07 como Salvador Dali, HR Giger, Peter Gabriel, Orson Welles e Gloria Swanson. Infelizmente, não saiu do papel. Todo o processo da criação do maior filme que nunca foi feito é mostrado no excelente documentário Jodorowsky’s Dune (2013) e merece ser assistido.

Em 1984, Dino de Laurentiis contratou David Lynch (Veludo AzulTwin Peaks) para dirigir uma versão mais “modesta” do filme,  A versão de Lynch teve quatro horas, mas dune08foi reduzida à metade, por de Laurentiis. O resultado foi um filme terrível, truncado e que pouco lembrava o livro. A cena final é particularmente constrangedora para quem um dia leu Duna. Lynch tentou se distanciar do filme, renegando-o. Não podemos culpá-lo.

O SyFy (na época Sci-Fi Channel) produziu uma minissérie para televisão em três partes, em 2000, chamada Frank Herbert’s Dune. Os três episódios somam 265 minutos (a versão do diretor tem 295). Em 2003, foi lançada uma sequência, Frank Herbert’s Children of Dune (combinando o segundo e terceiro livro), com 266 minutos. Até hoje são as melhores versões filmadas dos livros.

A Marvel Comics lançou, em 1984, uma adaptação em quadrinhos do filme de Lynch, escrita por Ralph Macchio e belamente ilustrada por Bill Sienkiewicz.

Além dos Livros Originais

Frank Herbert faleceu em 1986. Mas, em 1999, seu filho Brian Herbert e o escritor Kevin J Anderson começaram uma série de três livros chamada Prelude to Dune, usando algumas notas do próprio Frank. Os livros são House Atreides (1999), House Harkonnen (2000) e House Corrino (2001). Elas se passam algumas décadas antes do primeiro livro e mostram como os personagens e acontecimentos chegaram até àquele ponto.

Passada dez mil anos antes dos acontecimentos de Duna,  outra trilogia foi escrita, chamada Legends of Dune (The dune03Butlerian Jihad, de 2002; The Machine Crusade, 2003; e The Battle of Corrin, 2004), que mostra uma humanidade complacente e totalmente dependente das máquinas. Um grupo de humanos, auto-denominados “Titãs”, vê isso como uma oportunidade e toma o poder através de uma fusão de seus corpos com máquinas, criando o que é chamado de “cymek”. Mas eles são traídos por uma inteligência artificial chamada Omnius (criada por eles próprios) que se torna o regente do universo conhecido. A trilogia mostra a luta dos humanos para recuperar o controle e o posterior banimento das “máquinas pensantes”.

Heroes of Dune é uma tetralogia planejada para acontecer entre os dois primeiros livros originais. Até o momento saíram dois volumes, Paul of Dune (2008) e Winds of Dune (2010). Estão planejados The Throne of Dune e Leto of Dune, mas os autores decidiram adiar os livros para poderem se dedicar a uma outra série, chamada The Great Schools of Dune, que dune04mostra algumas das organizações daquele universo. Até o momento, saíram Sisterhood of Dune (2012) e Mentats of Dune (2014). Cronologicamente, Schools se passa cem anos após Legends e mostra a consolidação de importantes forças dentro de Duna.

Muitos puristas torcem o nariz para essas histórias. Besteira. São contos dignos de figurar naquele rico (e cada vez maior) universo compartilhado. E são muito bem escritos.

O interessante é que Duna tem um universo riquíssimo, tanto quanto Star Wars ou Star Trek. Entretanto não vemos convenções de Duna. Seus fãs são muitos, mas não chegam aos pés das legiões das outras duas franquias citadas. Por um lado isso é bom. Por outro, Duna não ganha o destaque que merece.

Então, se você não leu Duna, faça isso agora. Mesmo que você não seja fã de ficção científica. É um livro que merece todos os prêmios que recebeu. E sim, Mr. Ballard, é literatura. De primeira.

Serviço

Os seis livros originais de Duna foram publicados no Brasil pela Nova Fronteira. A editora Aleph vem republicando os livros no momento.

Os livros do universo “expandido”, de Brian Herbert e Kevin J Anderson não tem tradução até o momento no Brasil.

BenBen Santana nasceu no final da Era de Prata, mas cresceu na Era de Bronze. Professor, tradutor e desocupado (quando sobra tempo), vem lendo e pesquisando quadrinhos desde sempre. Seu blog é http://prataebronzecomics.blogspot.com.br

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5 comentários sobre “Nem STAR WARS, nem STAR TREK… conheça mais sobre DUNA, uma fantástica saga de FICÇÃO CIENTÍFICA

  1. Texto excelente e esclarecedor! Amo os originais de Herbert. Já os de Anderson, ainda não li. Bem que poderiam ser lançados no Brasil. Haveria edições em Portugal?

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  2. Simplesmente a melhor obra de ficção que já li. Mesmo sendo fã ardoroso de Isaac Asimov e Robert Heinlein, Duna é sem dúvida meu livro preferido! Um clássico que jamais teve uma adaptação à altura na telona (Duna de 1984 e a minissérie do início dos anos 2000 sequer chegam perto da grandiosidade do universo criado por Frank Herbert).

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  3. Em 1983 li Duna, depois nao consegui parar de ler o restante da obra. Nunca me desfiz da coleção tenho total apego a ela. de quando em quando releio, sempre acho algo novo e atual. Frank Herbert foi, somente escritor foi um profeta.

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